Matéria realizada pelo programa Terra de Minas
Rede Globo Minas -
24/02/2007 - 6' 08''
A Fazenda Solar conta uma história que começou no século XIX, quando abrigou a família de um nobre francês que foi atraído pelas riquezas minerais da região.
Em João Monlevade, um registro da história
da metalurgia em Minas.
Leia a reportagem ao lado.
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REPORTAGEM

História em miniatura
24/02/2007
A Fazenda Solar, em João Monlevade, na região central, é um registro importante da história da metalurgia em Minas. A nossa equipe foi conhecer o museu com as peças da primeira forjaria e o casarão
A fazenda conta uma história que começou no século XIX. No velho casarão, com amplas varandas e muitos cômodos, viveu a família de um nobre francês. Jean Antoane Felix de Sandez de Monlevade. Ele foi atraído pelas notícias sobre as riquezas minerais de Minas.
-Ele veio para o Brasil, recebeu de Dom João VI permissão para explorar as jazidas mineralógicas de Minas Gerais. Ele passou por várias cidades: São João del Rei, Ouro Preto, Sabará e São Miguel do Piracicaba, que é a cidade próxima daqui que hoje se chama Rio Piracicaba, da qual a cidade de João Monlevade dependeu, politicamente, durante várias épocas, explicou o professor Geraldo Eustáquio Ferreira.
Foi nessa região, que o engenheiro comprou uma sesmaria, terras abandonadas que a coroa punha à venda. Aqui, descobriu muito minério e montou uma forjaria, considerada a primeira de Minas.
A forjaria, movida com a força da água, é 1817. Era usada para fazer ferramentas para o trabalho no campo, principal atividade da região naquela época.
Os cravos, enxadas e ferraduras. Daqui saia para o Brasil inteiro esses produtos para agricultura da época, contou o jornalista Wander Silva.
A forja funcionou 70 anos, até que um novo proprietário - o Barão de Mauá - trouxe o primeiro equipamento a vapor.
- Isso veio via marítima, até a região do Espírito Santo. Do Espírito Santo, eles adentraram o Rio Doce e foram subindo o rio, enquanto dava para navegar, e chegaram a cidade aqui perto chamada Dom Silvério. Construíram, na época, carretas imensas, puxadas por 40, 50 bois, para trazer as peças que pesavam três toneladas, cinco toneladas, contou Virgilio Pastorini Filho, consultor.
Hoje, todas essas peças estão guardadas no museu, montado na sede da fazenda.
- Isso aqui faz parte da história da metalurgia do Brasil. Temos outros sítios em São Paulo. Mas aqui, com o francês Jean... Foi o pioneiro, uma pessoa com coragem muito grande, que decidiu fazer ferramentas de ferro e aço no meio do mato - no local, em que era difícil estrada, acessos, comentou o consultor.
É a história da indústria metalúrgica e também da cidade de João Monlevade, que nasceu em volta da velha forjaria.
Quase dois séculos depois, a fazenda Monlevade está preservada. O Solar, este casarão principal, passou por restaurações e mantém características originais. Tudo aqui é tombado pelo patrimônio do município e é também o grande orgulho dos moradores.
André fotografa. Muda o ângulo e se entusiasma.
- As janelas enormes, madeiras bem trabalhadas, as ferragens de 1800, olha para você ver. Quanta mão-de-obra. Não tinha a tecnologia que temos hoje. Tudo feito à mão, afirmou André Freitas, artesão.
Depois de fazer as fotografias, mede cada canto do solar.
André é um maquetista.
- Eu tenho que fazer a peça, a construção, exatamente na proporção correta. Por isso a escala um para 25.
E olhos atentos para detalhes que fazem da maquete uma reprodução fiel.
- Aqui eu estou fazendo o acabamento da peça, uma janela. Agora, a pintura para chegar no acabamento final, disse.
O chão é de madeira nobre.
- Isso aqui é uma madeira que não existe mais para comprar. Então, para poder dar a característica de madeira antiga, de coisa nobre, eu consegui com um amigo, na marcenaria, ele cortou para mim para dar um acabamento e mais realismo à peça. O telhado é feito com molde de gesso, feito de silicone, depois é feito o gesso e pintado também, explicou o artesão.
As marcas que o tempo deixou no Solar também fazem parte do cenário. E do trabalho do artesão. Ele mistura tons, colore delicadamente.
- É o envelhecimento da peça do telhado, para ficar parecendo mas original possível. As partes mais baixas do telhado ficam mais escuras por causa do minério, do carvão. E aqui, com a resistência da telha, algumas cores permanecem. Envelhecimento, mofo, aquele lodo que dá na pedra com a chuva. Parece um pedaço de uma história, encerrou.
Reportagem: Larissa Carvalho
Imagens: Francisco Peixoto e Alípio Martins
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